segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009



Lúcifer explicou o seu pensamento, atendendo à impaciência do harpista.

Ele se levanta, alça vôo e chega ao “ACA”.

Lúcifer apontou para a harpa e disse:

- estão vendo esse instrumento, amigos? Lindo né? E que sonoridade cristalina...

Lúcifer deu uma dedilhada debochada no instrumento.

- Pois este instrumento tão melodioso, doce, aparentemente inofensivo pode ser um instrumento letal. Não para nossos espíritos, mas para nossa moral. Pois esse senhor discursou sobre o quanto a música nos inspira, nos faz pensar em coisas boas e até eu, em outros tempos, e mais recentemente no último grand’espetáculo fiz um discurso parecido. Mas querem saber? Na verdade o que chamamos de inspiração é uma espécie de direcionamento de sentidos, uma forma de nos controlar através de nossas emoções, a música nos leva, com suas viagens, a pensarmos diferente de nosso pensamento verdadeiro, a trocar nossos instintos originais por outros guiados pela sonoridade da música...

Lúcifer começa a dedilhar bem de leva e a falara mansamente.

- assim podemos ficar brandos, suaves...

Começa a bater com violência nas cordas da harpa e a gritar.

- ou irados, agitados, bruscos!

Volta a seu estado normal.

- é um método viável de dominação angelical, sendo que alguém um dia possa vir a pensar em, quem sabe – falsete irônico - usar isso para nos controlar.

Deu uma olhadela pro lord, ao lado do qual estava Gabriel:

- E quem sabe se isso já não está acontecendo? Eu não conheço nenhum déspota pelas redondezas, mas nunca se sabe, né...

Deus entendia a ironia. Mas os anjos muitas vezes ficam boiando com algumas coisas que o lúcifer falava.

- A sagrada música, com a mesma facilidade com que altera nosso estado de espírito, pode ditar nossas ações. É claro que isso não chega a ser um fato. Mas é uma possibilidade muito concreta. Espero ter te esclarecido melhor, meu caro harpista.

O harpita ainda estava meio confuso, mas respondeu meio em transe:

- É... deveras, maestro augustus...

- E a propósito, muito obrigado pela homenagem – disse o lúcifer para aliviar um pouco a tensão. Devolveu a harpa a seu dono e dirigiu-se ao lugar onde estava sentado antes, ao lado de Deus, do lado que o Gabriel não tava, é claro.

Deus entendeu o significado daquilo. Era o início da acordada revolução. Era onde tudo de fato começaria.