Em dada ocasião, como o prometido, Fabriciel apareceu e eles foram à redação. Fabriciel trazia em mãos a matéria que entregaria ao Lorde, e dessa ida já falariam sobre a cobertura do evento. Falaram com o chefão, e conseguiram, claro, porque mais do que o chefão quem mandava naquela porquera era o lúcifer. Depois foram pra sala onde Fabriciel trabalhava, pra ficar de boa.
- Faby, você ta com moral, hein. Você tem uma sala só sua aqui na central.
- é, mas eu divido a sala com outro carinha, só que ele quase nunca vem aqui. Curte só, Lú. Quero te mostrar uma coisa.
Fabriciel jogou um papiro qualquer sobre a mesa, na qual o folgadinho do lúcifer já apoiava os pés. Lúcifer examinou aquele rolo de matéria etérea. De cada extremidade pendiam duas fitas de luz dourada. Lúcifer analisou com cuidado. Deu o veredicto, fazendo um gesto de respeito e admiração com os lábios enrugados e salientados:
- Fabão, isso é coisa alta, viu, anjinho.
- é claro que é, Lú. Você acha que eu ia te dar coisas pequena! Esse aí é nada mais nada menos que o esporádico Secreto Oficial!
- como é que é?
Lúcifer se espantou a valer, e olhe que ele não era de se surpreender com coisa pouca. Se ele tivesse bebendo alguma coisa com certeza ia espirrar na cara de Fabriciel.
- bicho, isso é muito bom!
Seus olhos brilhavam, ou melhor, faiscavam, fitando um horizonte não identificável através dos átrios daquela sala na central.
- muito bom, cara. Muito bom. Mas como é que você conseguiu isso, se nem eu tenho acesso a ele. Aliás... Eu nem sabia que isso existia. Eu pensei que isso era um projeto que não tinha sido implantado.
- pois é. Acho que o grandalhão te enganou. Te despistou para manter sua segurança sem te dar acesso a informações valiosas. Bem conveniente, não?
- Sim. Muito conveniente.
- E não é tudo.
Apontou o final do papiro.
Nele declarava-se a criação de um lugar muito diferente de éter, destinado á habitação de um outro ser totalmente diferente dos anjos aos quais esses seriam subjugados.
Nele detalhes técnicos sobre esse mundo e sobre as propriedades desses seres.
- mas cara, isso é demais.
- É claro que é.
- sabe o que eu estava pensando outro momento?
-não, claro que não sei.
- acho que não vale mais a pena eu me meodicrizar desse jeito. Outro dia me peguei questionando porque as pessoas mesmo tendo consciência das certas coisas, compactuam caladas, não se manifestam. E sabe o que eu concluí?
- não, claro que não sei.
- nada. Eu não concluí nada. Mas acabei descobrindo que eu tenho mais consciência que muitos outros e nunca me manifestei. Eu não, né... nós. Mas eu lembrei também o que me detém: tenho receios quanto á ira divina, quanto á desastres futuros.
-bem, reforço sua última afirmação com o seguinte provérbio: Os covardes não apanham.
- mas quem disse que os covardes tem que se resignar? Eles não precisam ir para o embate. Tendo um pouco de inteligência, estes mesmos covardes podem conseguir o que lhes interessa sem ter que apanhar.
Longa pausa entre ambos. lúcifer fita o horizonte longínquo, pensativo. Fabriciel também fita o horizonte longínquo, não pensativo, como lúcifer, mas como que tentando enxergar o que lúcifer está vendo, a mosca dourada e impertinente da iluminação.
De repente a face pensativa de lúcifer se transforma numa face iluminada e mais presente, agora. Quebra bruscamente o silêncio com o brado de uma idéia que lhe fulminou como um raio:
- EUREKA!!
- Eureka? Disse fabríciel com sua imutável calmaria, com sua imutável dispersão – que é isso? Achou?
- que achou, isso é grego.
- grego?
- È... Capturei...
- Quem, Serafim, pelo amor do lorde?!
- Capturei a mosca dourada e impertinente da iluminação...
- Lucy, eu vou chamar alguém... Você ta doidão cara...
- Claro que não, Faby. É que eu acabo assimilando umas paradas que o lorde fica falando. Mas o fato é que o germe de uma idéia começa a habitar em mim...
- Começou...
- olha, Faby, o fato é que eu começo a ter uma idéia. Veja: nós temos que elaborar uma maneira de fazer o escarcéu, mas ter o lorde sob controle. Ou de alguma forma fazer com que pareça do interesse do lorde que a gente o afronte.
- que que tu quer fazer, cara... Acha que vai aprontar e o lorde achar bonitinho, pensando que é uma brincadeira?
- gênio!! Mas como... Calma, e se eu o convencesse de que a revolução é de seu interesse?
- quem sabe... Porque não pergunta pra ele? Ele não é onipresente?
- Vê se não fala besteira, Faby. Mas o que interessaria a ele que desmentíssemos a ele mesmo?
- pensemos bem. Ele é um verdadeiro populista. O que pensa do povo?
- você que sabe. O jornalista é você. O que você poderia adiantar sobre as pesquisas mais recentes?
- hum...
- qual é?
- lembre-se, sobre o convívio entre os anjos?
- claro! O povo é receoso em relação a alguns...
- e também os anjos serão submetidos, á um novo ser...
- é, e o maioral vai querer difundir lá as mesmas idéias que ele impõe sobre os pobres anjinhos. Dizia lúcifer, agora displicentemente, num tom irônico de desesperança e pena. fabríciel prosseguia a displicência:
- é, eles acham que não tem personalidade, e acham que são obrigados a obedecer.
- como é que nós pudemos descobrir que somos livres...
- acho que legitimamente não o somos. Só seriamos livres se usássemos a liberdade. Mas compactuando com o que os grandes nos impõem, somos tão presos quanto os outros tontinhos.
E nesse pique aproveitando-se dessas e de outras idéias, eles formataram as primeiras idéias do que pretendia ser uma revolução.
Restava agora fazer o cabeção do lord.
***
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